Cada vez mais, temos presenciado o aumento dos incêndios florestais, fenômeno que acelera a degradação ambiental e ameaça diretamente os esforços de conservação e os projetos de restauração ecológica. No entanto, o fogo, quando bem manejado, também pode ser um importante aliado na recuperação de áreas degradadas. Nesse cenário, o uso de tecnologias como os drones surge como uma ferramenta estratégica, capaz de ampliar nossa capacidade de monitoramento, planejamento e execução das ações no território. Eles contribuem significativamente para tornar o processo mais eficiente, seguro e preciso, fortalecendo a restauração e a gestão integrada do fogo.
Com esse foco, o curso de ‘Pilotagem e Mapeamento com Drones’ capacitou 50 participantes de 28 instituições públicas, privadas e do terceiro setor em dois territórios estratégicos da Mata Atlântica: Extrema (MG) e São José do Barreiro (SP), na Serra da Bocaina. A iniciativa promoveu uma formação técnica robusta, com equilíbrio entre teoria e prática, reunindo profissionais que atuam diretamente na linha de frente da conservação ambiental, como brigadistas, gestores públicos, técnicos de projetos, agentes municipais e parceiros da TNC Brasil.
Durante os encontros, os participantes experimentaram diferentes modelos de drones, como os DJI com câmeras RGB, térmicas e de grande porte, e puderam trocar experiências sobre as necessidades locais. A formação abordou desde o uso básico até a aplicação estratégica da tecnologia em ações como mapeamento de áreas degradadas, monitoramento de queimadas, planejamento de plantios e combate a incêndios florestais.
“O curso movimenta o território e impulsiona as ações de cada instituição participante. Mesmo com frentes distintas – como pesquisa, brigadas voluntárias ou projetos de restauração – todos avançam em suas pautas com o apoio dessa tecnologia”, destacou Cíntia P. Palheta Balieiro, agrônoma e especialista em ciência de dados da TNC Brasil.

Com um leque de temas abordados, desde montagem e pilotagem até regulamentação legal e interpretação de dados, a capacitação evidenciou o potencial dos drones para otimizar tempo, reduzir custos operacionais e qualificar o planejamento ambiental. Além de contribuir para decisões mais rápidas, os drones ampliam a integração entre os atores locais e promovem respostas mais coordenadas no território. “O drone se torna uma ponte entre conhecimento técnico e saberes locais, entre instituições e comunidade. Ele acelera o diagnóstico e melhora a articulação com parceiros, o que resulta em mais eficiência nas ações de campo”, explica Cíntia.
A formação contou com o apoio de instituições como a TNC Brasil, CEDAE, Instituto Toré, prefeituras locais e do Plano Conservador da Mantiqueira. A articulação conjunta garantiu o acesso a equipamentos de ponta e à troca entre especialistas, fortalecendo a colaboração em rede que sustenta as estratégias de restauração e o Manejo Integrado do Fogo (MIF) na região. Um dos objetivos da formação era transformar participantes em multiplicadores, capazes de reaplicar o método em seus territórios e disseminar o conhecimento adquirido.
“A capacitação foi muito rica, com trocas importantes, como o relato da Fundação Florestal sobre o uso de drones em incêndios e a experiência da CEDAE com a tecnologia. Sempre tive vontade de aplicar essa ferramenta no monitoramento da restauração, e agora vejo ainda mais seu potencial.”, contou Mateus de Oliveira Ismael, analista de Geoprocessamento da Fundação Agência das Bacias PCJ.
Entre os participantes, o analista de geociências José Paulo Bueno de Souza, chefe da agência do IBGE de Bragança Paulista, destacou a possibilidade de aplicação na sua área de atuação: “O aprendizado foi excelente, assim como a troca com profissionais de diferentes regiões e instituições. Já conhecia a tecnologia, mas nunca tinha operado um drone. Fiquei impressionado com o potencial da ferramenta para o mapeamento, pela precisão e pelos dados atualizados que pode gerar para qualificar nosso trabalho no IBGE.”
Além da Cíntia, o curso também foi conduzido por Arthur Petruccelli, agrônomo e especialista em restauração florestal da TNC Brasil, com apoio técnico dos facilitadores convidados da CEDAE, os agentes de saneamento Diego Coimbra e Vanessa Correia. Entre os principais resultados esperados estão o domínio de habilidades técnicas para operação de drones, compreensão da legislação vigente (ANAC, DECEA, SARPAS), aplicação prática em ações como restauração florestal, Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e combate a incêndios, além de atualização tecnológica e fortalecimento da articulação entre instituições parceiras.
Os organizadores avançam agora na construção de um protocolo de capacitação em drones com câmeras termais, voltado especificamente à prevenção e combate a incêndios florestais. A proposta é integrar o uso de tecnologias com a experiência das brigadas e os princípios do Manejo Integrado do Fogo (MIF), otimizando os esforços de proteção da biodiversidade e dos recursos hídricos da Mata Atlântica.